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Single/45rpm

Menina dos olhos tristes, 1969

ALINHAMENTO

01. Menina dos olhos tristes
LETRA Reinaldo Ferreira
MÚSICA José Afonso

02. Canta camarada
LETRA Popular
MÚSICA José Afonso

FICHA TÉCNICA

edição
Arnaldo Trindade & Cª. Lda (Orfeu SAT 803)
gravação
Estúdios Polysom, Lisboa
músicos
Rui Pato: Viola

Os seus discos não passavam na rádio nem na televisão, nem sequer no Zip-Zip, que no ténue degelo da Primavera marcelista rompia vagamente na RTP o bloqueio da herança salazarista para nos deixar pela primeira vez ouvir as vozes de Fanhais e de Manuel Freire. Mas cada novo disco seu que saía chegava-nos através dos irmãos e dos amigos mais velhos, por vezes com recomendações de cuidado, porque – diziam-nos – "está proibido". Ouvi-lo era para nós a sensação de entrar numa aventura fascinante, que nos unia num gesto necessariamente juvenil e ingénuo mas nem por isso menos convicto de ruptura, de rejeição da estupidez da ordem vigente, de certeza de que era possível outra realidade em que os nossos sonhos e os nossos ideais poderiam tomar corpo. O Zeca, mesmo sendo da idade dos nossos pais, era um de nós, era a nossa voz, como uma espécie de Peter Pan que se recusara a envelhecer e que conquistara pelo seu génio de criador e pela coragem da sua postura cívica a juventude eterna dos grandes ideais. Aprendíamos de cor as letras e as músicas. A menina dos olhos tristes que chorava porque «o soldadinho não volta do outro lado do mar» era a imagem perfeita da nossa própria angústia naquele universo de jovens que víamos partirem todos os dias para a guerra e não regressarem, num destino que sabíamos poder em breve vir também a ser o nosso. A brutalidade estúpida dos filmes cortados e dos livros proibidos, de que nos apercebíamos como a imagem quotidiana mais imediata da censura, despertava-nos anseios de liberdade de pensamento que o Zeca mais uma vez expressava como ninguém: "Vejam bem que não há só gaivotas em terra quando um homem se põe a pensar".
Rui Vieira Nery
Musicólogo

Tenho-me tratado com insistência, mas estou quase na mesma. Dos cuidados que tiver com a garganta depende o sucesso da gravação. Um abraço ao Rui. Conte com o Zeca Afonso.

Excerto de postal enviado por José Afonso a Albano da Rocha Pato, s/ data