Rua Detrás da Guarda, 28, Setúbal

associacaojoseafonso@gmail.com

Cesto

Nenhum produto no carrinho.

EP/45rpm

Balada do Outono, 1960

ALINHAMENTO

01. Balada do Outono
LETRA/MÚSICA José Afonso

02. Vira de Coimbra
LETRA/MÚSICA Popular
ARRANJO António Portugal

03. Amor de estudante
LETRA Popular/João Carlos C. Gomes
MÚSICA D. José Pais de Almeida e Silva

04. Morena
Instrumental
MÚSICA Saldanha Júnior
ARRANJO António Portugal

FICHA TÉCNICA

edição
Discos Rapsódia Lda. (EPF 5.085)
gravação
Museu Machado de Castro, Coimbra
músicos
António Portugal e Eduardo Melo: Guitarra Portuguesa Manuel Pepe e Paulo Alão: Viola

edições estrangeiras
Brasil

Foi o grupo de Portugal, creio que em 1959, convidado a fazer uma gravação discográfica de Fados e Guitarrada de Coimbra para a etiqueta «Alvorada». O Grupo era composto, depois de se ter desmembrado o «Coimbra Quintet», por António Portugal, Eduardo Melo, Manuel Pepe e Paulo Alão que acompanhavam o José Afonso. Depois de ensaiados os números a gravar num pequeno disco chamado “45 rotações” e no dia marcado, foi o cenário montado nos claustros do museu Machado Castro, onde um técnico de som e utilizando um mero gravador portátil fez os respectivos testes de som e iniciou-se a acção. Não me recordo da ordem seguida, mas sei que ao gravar o último fado do Zeca não se conseguiu o efeito desejado quer pelo acompanhamento do instrumental, quer pela qualidade do canto. Tornou-se assim necessário desbloquear o impasse. (Abro aqui um pequeno parêntesis para uma breve explicação: sempre que vinha a Coimbra nas suas deambulações pelo mundo a “…desbravar os caminhos do pão”, o Zeca aboletava-se na Real Republica AY-Ó-LINDA onde eu, ao tempo, era caloiro. O Zeca gostava imenso de cantar à noite nas velhas ruas da Alta e assim, com a viola debaixo do braço, íamos pelas ruas a tocar e cantar temas que ele improvisava ou já tinha esquematizado na sua mente: música e poema. Um dos temas que ele invariavelmente interpretava era uma canção que começava “águas do rio correndo / poentes morrendo / p’rás bandas do mar…” tocada em lá menor e com um acompanhamento simples da viola. Que saudade duma noite, sentados num degrau do Patronato na rua da Matemática)!!! Dada esta pequena explicação, e voltando ao tema da gravação, propus então ao Zeca a inclusão deste tema para substituir o que fora anulado. Despertado o interesse, depois de ouvir os primeiros acordes, começou o Portugal juntamente com o Melo a introduzir acordes nas guitarras. Mas o Zeca não queria que fosse assim - gravar mas só com acompanhamento de viola. (Convém aqui esclarecer que o Zeca me dizia nas nossas deambulações nocturnas que queria deixar de cantar o fado tradicional pois que, para além das letras que não respondiam aos nossos anseios de jovens que viam no horizonte “…o sol nascendo” e tomavam consciência dos “vampiros e tubarões que comem tudo e não deixam nada”, o acompanhamento das guitarras que obrigava a um rigor da técnica musical e obediência na divisão de compassos e tempos o impediam de dar livre expressão às músicas que queria criar e cantar). Depois de acalorada discussão, como era típico do Portugal, chegou-se a um compromisso : as guitarras fariam uma breve introdução e voltavam à mesma na separação das estrofes com um final idêntico ao tema inicial. Difícil foi convencer o Pepe que, desconhecendo totalmente a música em causa, receava estragar o efeito pretendido. Mas, após uma gravação experimental, foi feita a tomada definitiva com um pormenor curioso: no final, a guitarra de Portugal toca um acorde exactamente igual ao acorde inicial convencido que estava que a música iria continuar. Queria apagar esta gravação mas, ou por saturação ou cansaço de todos, estabeleceu-se que assim ficaria em definitivo e volvidos mais de cinquenta anos é assim que está registado, muito embora o acompanhamento inédito criado mais tarde pelo Octávio Sérgio, cujo inegável valor está hoje em dia mais divulgado entre os amantes da nossa Música de Coimbra. Sobre o nome dado à canção do Zeca, pretendia ele que se chamasse «Balada do rio» ou «Balada do Mondego». Optou-se finalmente por «Balada do Outono» que ficou assim a constituir a primeira balada gravada pelo Zeca iniciando algo que se tornou imparável — o movimento das baladas. Penso que, de forma atabalhoada consegui transmitir aquilo que foi o nascimento da «Balada do Outono». Finalmente quero deixar aqui o abraço de eterna saudade aos que partiram: Zeca Afonso, António Portugal, Manuel Pepe e votos de longa vida para o outro sobrevivente do grupo — Eduardo Melo, de quem nada sei desde esses tempos da nossa “Coimbra sem idade”. Sei que me alonguei no texto mas só assim consegui relatar a verdade dos factos, deixando que o meu amigo o utilize da forma que entender.
Paulo Alão, in «Desta canção que apeteço»
Guitarrista